3 de junho de 2005

Caso Vanderlei: veredicto sai até julho

Depois de mais de cinco horas ouvindo advogados, atletas, peritos e
testemunhas, os juízes da Corte Arbitral do Esporte (CAS) prometeram
nesta sexta-feira, em Lausanne, na Suíça, definir o caso do
maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima até meados de julho.
O atleta, com apoio do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), reivindica a
medalha de ouro olímpica, por ter sido atacado durante a sua prova nos
Jogos de Atenas, no ano passado.

Vanderlei liderava a maratona dos Jogos de Atenas quando foi atacado
pelo ex-padre irlandês Cornelius Horan. Com isso, acabou na terceira
colocação, com a medalha de bronze. A reivindicação brasileira é que
ele ganhe o ouro, sem prejuízo ao italiano Stefano Baldini, que venceu
a prova.

A primeira medida do COB e de Vanderlei, logo depois da Olimpíada, foi
reivindicar a mudança de medalha na Federação Internacional de
Atletismo (Iaaf), que recusou o pedido brasileiro. Com isso, levaram o
caso ao tribunal máximo do esporte.

De um lado, o atleta brasileiro se declarou "traído" pela Iaaf por
sequer ter considerado seu pedido anterior para rever o resultado da
prova. "Acredito que eles (Iaaf) precisam ser mais humildes e
reconhecer o erro. O que está em jogo não é apenas uma medalha, mas o
espírito dos Jogos Olímpicos", afirmou Vanderlei.

Do outro lado, a Iaaf, preocupada em não deixar que se abra um
precedente, acusava o COB de estar praticando "puras especulações" ao
argumentar aos juízes internacionais que Vanderlei poderia ter vencido
a prova se não tivesse ocorrido o incidente.

Diante da complexidade do caso, os três árbitros internacionais
escolhidos para julgar o recurso brasileiro pediram de quatro a seis
semanas para se pronunciarem sobre o resultado. "Esse é um caso
único", admitiu um dos juízes, que pediu para não ser identificado.

O tempo solicitado pelos árbitros é maior que a média das outras
decisões tomadas pelo CAS, que levam no máximo duas semanas para serem
anunciadas.

Estratégias - A defesa do COB no CAS, que contou com peritos,
advogados, técnicos, maratonistas e testemunhas, se baseou na
tentativa de mostrar que, sem a agressão, Vanderlei teria chances de
vencer a prova. Foram demonstrados, inclusive com a projeção de um
vídeo com as cenas do ataque, os prejuízos físicos e morais sobre o
atleta.

O COB ainda pagou a viagem do grego Polyvios Kossivas até a Suíça. Foi
ele quem livrou Vanderlei do ataque. E, nesta sexta-feira, deu seu
testemunho aos juízes, o que pode pesar na decisão final.

"Foi algo muito violento. O padre irlandês ficou agarrado ao corredor
e foi difícil separá-los", contou Polyvios Kossivas. "Seria uma das
maiores injustiças na história do atletismo se essa medalha não fosse
dada ao brasileiro", completou o cidadão grego, depois de passar cerca
de 20 minutos na sessão do tribunal.

A estratégia da Iaaf, que estava representada apenas três advogados e
nem sequer uma autoridade da entidade, foi dizer que o COB se limitava
a fazer especulações sobre o resultado. Para eles, o brasileiro
poderia se machucar, escorregar ou ter câimbras antes do final da
maratona.

"Não posso dar certeza se ganharia, mas em nenhum momento coloquei em
dúvida o que eu estava fazendo", afirmou Vanderlei, lembrando que
parte de sua energia que seria usada na fase final do percurso acabou
perdida com o susto do ataque.

Sem parar - Enquanto ainda luta pelo ouro olímpico, Vanderlei continua
sua rotina de treinamentos. Nesta sexta-feira mesmo, ele acordou às
seis horas e correu 16 quilômetros antes da audiência que poderia
mudar sua vida. Logo depois das reuniões no tribunal, trocou seu terno
por uniforme e voltou a correr mais 16 quilômetros.

"Tenho de treinar, se não os resultados não virão", afirmou Vanderlei,
que admite que temeu por sua vida na maratona de Atenas e que ainda
carrega um pouco do trauma. Seu objetivo para este ano é estar entre
os dez primeiros colocados no Mundial de Atletismo, em agosto, na
Finlândia. Para isso, passará a treinar na Colômbia em uma altitude de
2,5 mil metros.