17 de agosto de 2005

Mundial assiste à consagração de favoritos, e Brasil volta sem medalhas

Poucas surpresas, favoritos no topo do pódio, recorde de medalhas para os EUA e um sinal de alerta para a campanha brasileira. Assim foi o Mundial de atletismo de Helsinque, na Finlândia, que chegou ao seu final neste domingo.

Antes dos oito dias de disputas, o sonho brasileiro era de conseguir sua primeira medalha de ouro em 22 anos de Mundiais. Ficou faltando o ouro e, pior, a prata e o bronze também não apareceram, assim como em Edmonton-2001. Com isso, o país segue com quatro medalhas de prata e outras quatro de bronze em seu histórico na competição.

Há dois anos, em Paris, o Brasil só conquistou uma medalha no último dia, com a prata no revezamento 4x100 m, mesmo resultado obtido nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. No ano passado, situação semelhante aconteceu nas Olimpíadas de Atenas, quando Vanderlei Cordeiro de Lima ficou com o bronze na maratona, última prova do calendário, e única medalha do atletismo nacional na competição.

 
Jadel Gregório era a grande esperança de um lugar no pódio. Dono da segunda melhor marca do ano no salto triplo e com a ausência do sueco Christian Olsson, que está em fase de recuperação de uma cirurgia, o brasileiro tinha como principal adversário o romeno Marian Oprea, que registrara o melhor salto de 2005 e foi prata em Atenas, atrás apenas do supercampeão da Suécia.

Oprea havia saltado 17,81 m, em julho, enquanto Jadel conseguiu 17,73 m, em junho, a melhor marca de sua carreira. No entanto, nenhum dos dois confirmou a expectativa. O vencedor foi o norte-americano Walter Davis, com 17,57 m, seguido pelo cubano Yoandri Betanzos, com 17,42 m. O romeno foi apenas o terceiro, com 17,40 m.

O brasileiro ficou longe de suas melhores marcas. Conseguiu completar quatro dos seis saltos com sucesso, sendo apenas dois acima dos 17,00 m: o primeiro, com 17,11 m, e o quarto, com 17,20 m. A marca foi a mesma alcançada nas eliminatórias, quando disse que estava "se poupando", e o resultado o colocou apenas na sexta posição na classificação geral.

A justificativa foram dores no músculo direito e na panturrilha esquerda, mas, mesmo assim, o gosto foi de decepção, como confirma Roberto Gesta de Melo, presidente da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), e membro do Conselho da Iaaf (Federação Internacional das Associações de Atletismo). "Achávamos que o Jadel ganharia uma medalha no triplo, até os adversários dele acreditavam nisso. Ele foi bem, foi à final, saltou 17,20 m. O atleta é quem está mais chateado entre todos", afirmou.

O já tradicional revezamento 4x100 m rasos do Brasil, com os jovens Basílio Moraes, Bruno Pacheco e Jorge Célio nas vagas dos experientes Claudinei Quirino (recém-aposentado) e Edson Luciano (que se recupera de contusão), não brilhou como antes e ficou fora da final. "Corremos mal do primeiro ao quarto homem", disse Claudio Roberto, vice em Paris 2003 e presente em Helsinque, assim como André Domingos. O técnico Jayme Netto concordou que o desempenho não foi bom. "A gente tem de admitir quando não vai bem. Os velocistas, no masculino, foram mal no 4x100 e nas provas individuais."

Sem Vicente Lenílson, atleta que tem a melhor colocação no ranking dos 100 m rasos e que, lesionado, não foi à Finlândia, o Brasil não conseguiu passar à nenhuma final nas provas de velocidade masculinas, mesmo resultado dos meio-fundistas. Claudio Roberto (100 m), André Domingos, Basílio Moraes e Bruno Pacheco (200 m), Anderson Jorge (400 m), Osmar Barbosa e Fabiano Peçanha (800 m), além de Hudson de Souza ( 1.500 m) pararam já nas preliminares.

Além de Jadel Gregório, apenas outro atleta do masculino chegou à final. Sétimo em Atenas, Mathus Inocêncio foi o oitavo nos 110 m com barreiras, enquanto Redelen dos Santos e Anselmo Gomes chegaram às semifinais. "Não estou triste, nem posso. Mas queria chegar entre os cinco primeiros. E acho que ia conseguir, mas bati na quarta barreira. Sei que posso melhorar", disse o finalista.

Na maratona, Vanderlei Cordeiro de Lima, bronze nos Jogos Olímpicos, sentiu uma contratura na perna direita e não completou o percurso. O brasileiro mais bem colocado foi Marilson Gomes dos Santos, em décimo. "Ele foi inteligente, soube correr num percurso difícil, e além disso mostrou uma grande forma", disse o treinador-chefe da seleção, Ricardo D'Angelo.

As mulheres brasileiras ofuscaram o desempenho ruim dos homens no Mundial. A melhor colocação do país na Finlândia ficou a cargo de Lucimar Moura, Luciana Santos, Thatiana Ignácio e Raquel Costa , que levaram o revezamento 4x100 m ao quinto lugar. O tempo conquistado, 42s99, é apenas 0s02 inferior ao recorde sul-americano, também pertencente ao Brasil.

Outro revezamento, o 4x400 m, com Maria Laura, Geisa Coutinho, Josiane Tito e Lucimar Teodoro, bateu o recorde sul-americano na semi, com 3min26s82. Na luta por medalhas, no entanto, a equipe foi desclassificada, pois Lucimar, reponsável por fechar a prova, mudou de posição para receber o bastão. Ela devia receber na raia seis, mas se posicionou em uma raia interna, o que não é permitido.

Entre as velocistas, o desempenho também foi melhor do que o masculino. Lucimar Moura chegou à semi nos 100 m e 200 m. "Alcancei duas semifinais. Não posso reclamar", afirmou a atleta. Sua xará, Lucimar Teodoro, também foi semifinalista nos 400 m.

No salto com vara, Fabiana Murer registrou 4,40 m e igualou o recorde brasileiro. No entanto, fica aí visível uma defesagem da prova no país em relação ao que se pratica no mundo, já que a russa Yelena Isinbayeva, na final, quebrou o recorde mundial pela 18ª vez na carreira, superando 5,01 m, 61 centímetros a mais do que o melhor salto do Brasil.

A expectativa é de que a renovação pela qual passa o atletismo brasileiro traga resultados expressivos nas próximas temporadas. Atletas como Basílio Moraes, Bruno Pacheco, Jorge Célio, Raquel Costa, Franciela Krasucki, Lucimar Teodoro, Amanda Dias, Fabiano Peçanha, Anselmo Gomes da Silva e Thatiana Ignácio, ainda todos abaixo de 23 anos, terão a missão de subir aos pódios em torneios internacionais e melhorar o desempenho de apenas quatro finais em Helsinque.
 
Os EUA nunca haviam conquistado tantas medalhas de ouro em uma edição do Mundial. Foram 14 em Helsinque, que somadas às oito pratas e três bronzes, levaram o país ao título da competição. Mas quem ofuscou o brilho norte-americano foi a russa Yelena Isinbayeva, que bateu pela 18ª vez o recorde mundial no salto com vara.

Os favoritos confirmaram a boa fase e subiram no topo do pódio, como o norte-americano Justin Gatlin, 23. Sem a presença do recordista mundial, o jamaicano Asafa Powell, lesionado, ele venceu com facilidade os 100 m, e repetiu a dose nos 200 m.

O etíope Kenenisa Bekele, 23, ficou com a medalha de ouro nos 10.000 m, recheando ainda mais a sua precoce mas já gloriosa carreira, na qual soma um título olímpico e dois em Mundiais, e recordes nos 5.000 m 10.000 m.

O marroquino Rashid Ramzi, que se naturalizou e hoje compete pela bandeira do Bahrein, figurava entre os principais nomes das provas de fundo, mas foi além do esperado. Ele se tornou o atleta a vencer duas provas em um Mundial, com o ouros nos 800 m e 1.500 m.

O queniano Saif Saeed Shaheen, naturalizado pelo Qatar, se firmou como um dos principais nomes do mundo nos 3.000 m com obstáculos, repetindo o feito de Paris-2003 e conquistando o bicampeonato. No salto em diistância, o norte-americano Dwight Philips, atual campeão olímpico, conquistou o bi mundial.

Entre as mulheres, a cubana Osleydis Menéndez melhorou ainda mais seu recorde mundial no lançamento de dardo, registrando 71,70 m.

Nas provas de longa distância, a russa Olimpiada Ivanova garantiu o melhor tempo do mundo na marcha atlética 20 km com 1h25min41. Na maratona, a britânica Paula Radcliffe, recordista mundial, apagou o fiasco de Atenas, quando não completou a prova, e subiu no lugar mais alto do pódio.

Mas, de todas as competições, quem reinou foi Isinbayeva. A bela russa, de apenas 23 anos, registrou impressionantes 5,01 m no salto com vara, quebrando o recorde mudial pela 18ª vez e se confirmando como um dos maiores fenômenos na história do atletismo.

Seguidora dos passos do ucranino Sergey Bubka, que superou a melhor marca do mundo em 35 oportunidades e ainda detém o recorde mundial (6,14 m, conquistado em 1994), Isinbayeva se mostra ambiciosa quanto aos planos para as próximas competições. "Eu posso tentar 5,02 m ou 5,03 m", disse a russa voadora.