O Brasil perdeu ontem um atleta da delegação dos Jogos de Inverno de
Turim. Armando dos Santos, do bobsled, foi pego em teste do Comitê
Olímpico Brasileiro no início de janeiro. Santos terá que devolver a
credencial e está impedido de competir. É o primeiro atleta do país
que deixará uma Vila Olímpica por causa de doping.
"Fomos pegos de surpresa. Fiquei sabendo do resultado há meia hora.
Reuni a equipe para dar a notícia", contou Eric Maleson, presidente da
Confederação Brasileira de Desportos no Gelo.
O caso foi comunicado ao Comitê Olímpico Internacional e à Wada
(Agência Mundial Antidoping). A análise da urina de Santos, feita pelo
Ladetec, laboratório do Rio credenciado para realizar antidoping,
detectou a presença de norandrosterona, metabólito da nandrolona, no
organismo.
A nandrolona, em sua forma sintética, é um esteróide anabólico que
melhora a força e a potência muscular. Casos como o do brasileiro
costumam receber dois anos de suspensão, de acordo com as normas
apresentadas no Código Mundial Antidoping.
Santos, que ontem não falou, deixa hoje a Vila Olímpica e retorna ao
Brasil. Seu esporte original é o arremesso de martelo. Caso seja
suspenso, não poderá participar de provas nas duas modalidades.
"O Armando recebeu a notícia de maneira serena. Ele participou de uma
reunião conosco, conversou com a equipe e depois foi para o quarto.
Está chateado", contou Edson Menezes, chefe da delegação do país nos
Jogos de Inverno.
"Está sendo difícil para todos nós porque foi a primeira vez que isso
aconteceu", completou.
Eric Maleson, presidente da CBDG, chegou a ter dúvida se o Brasil
estaria apto a competir no bobsled nos dias 24 e 25.
A vaga para os Jogos de Inverno foi conquistada no final de janeiro,
na Copa Challenge, na Alemanha. Santos, que já havia passado pelo
teste que deu resultado positivo, fez parte daquela equipe.
"O que eu sei é que, pelas regras, quem qualifica a equipe é o piloto.
E o Armando não foi o piloto do bobsled [foi breakman]. Na minha
interpretação e na do chefe de missão temos condições. Vou acatar a
decisão do COB [de competir]", declarou Maleson.
Se tiver condições de participar, o Brasil terá Claudinei Quirino como
empurrador do trenó. Ele é o primeiro medalhista olímpico a participar
das duas versões dos Jogos. A função de breakman será assumida por
Márcio Silva.
"Ele já atuou nessa posição em novembro. Acho que não teremos
problema", destaca Maleson.
Na ocasião, foram feitos testes que indicaram que Silva atuava melhor
no bobsled de dupla. Santos se destacou no quarteto. Faltando dez dias
da estréia olímpica, será a primeira vez que o grupo treinará com essa
formação.
Questionado pela Folha, Frédéric Donzé, gerente de comunicações da
Wada, disse que a decisão é da Federação Internacional de Bobsled e
Luge. Segundo o artigo 10.7 do código antidoping, o atleta sofre
"desqualificação automática de todos os resultados obtidos a partir da
data do exame positivo".
Para esportes coletivos, contudo, o artigo 11 diz que "desqualificação
ou outra ação disciplinar contra o time quando um ou mais de seus
membros cometem violação às regras do antidoping deve ser feita pela
regra da federação internacional [de cada esporte]".
Hoje, o Brasil compete com Nikolai Hentsch, às 9h, na prova combinada
do esqui alpino.