23 de setembro de 2008

Esquecido, Ronaldo da Costa faz auto-homenagem para 10 anos de recorde

A criação de uma prova para crianças foi a forma que Ronaldo da Costa
encontrou para lembrar uma data que foi esquecida pelo esporte
nacional. O último sábado marcou o décimo aniversário do recorde
mundial obtido pelo mineiro na maratona, mas se não fosse pela
iniciativa do próprio Ronaldo nenhuma celebração seria feita para a
data.

"Fui esquecido e ninguém lembrou até agora. Só você que resolveu me
ligar e é o primeiro a falar disso comigo", revelou o ex-atleta em
entrevista por telefone ao UOL Esporte, que não disfarçou a frustração
com o total esquecimento. "Você fica chateado, pois deveriam respeitar
o que já fiz pelo esporte brasileiro. Na hora, vem muita badalação,
mas depois ninguém lembra", desabafou.

Ciente que o brasileiro não costuma valorizar o seu passado, Ronaldo
da Costa fará então uma auto-homenagem. Neste sábado, ele organizará a
Maratoninha Ronaldo da Costa, em sua cidade-natal (Descoberto-MG), com
provas para crianças entre 4 a 14 anos. Os participantes serão
divididos em cinco categorias com as distâncias variando de 50m a
1.000m.

"Já que ninguém lembrou, vou fazer minha festa na maratoninha. Estar
com as crianças é o que gosto mesmo e também estarei com meus
familiares lembrando desta data, que para mim foi o auge da minha
carreira", destacou o ex-atleta.

Esta será a terceira vez que o mineiro promoverá um evento em Minas
Gerais. Em 2007 e 2008 foram disputadas duas edições da Maratoninha
Ronaldo da Costa em São João do Nepomuceno, cidade mineira onde o
ex-atleta trabalha há três anos em uma associação atlética para
ensinar o atletismo às crianças.

Para ele, a Maratona de Berlim terá sempre um espaço especial na vida.
Em 20 de setembro de 1998, Ronaldo da Costa surpreendeu a todos,
inclusive a ele mesmo, ao estabelecer o novo recorde mundial da
maratona com o tempo de 2h06min05, melhorando em 45 segundos a marca
anterior, que pertencia ao etíope Belayneh Dinsamo, que fez 2h06min50s
em 17 de abril de 1988.

"Eu viajei para Berlim sonhando com o recorde brasileiro. No dia, eu
sabia que estava bem preparado, mas foi muito além da expectativa. A
partir dos 15km, o meu técnico me disse que poderia correr para
2h06min50, então passei a forçar um pouco mais o ritmo e consegui.
Estava tudo ao meu lado, o clima ajudou, eu cheguei bem e pude fazer a
minha história. Foi o auge da minha carreira, da minha vida, de tudo
que vivi", lembrou emocionado.

Com o recorde, Ronaldo da Costa tornou-se o quarto e último
representante do país a ser recordista mundial em uma prova do
atletismo na história. Adhemar Ferreira da Silva teve a melhor marca
do salto triplo na década de 1950, levando o São Paulo, seu clube, a
homenageá-lo com a colocação de duas estrelas amarelas acima do escudo
do clube em alusão a dois recordes obtidos pelo triplista.
Posteriormente, na mesma prova, Nelson Prudêncio (na década de 1960) e
João do Pulo (décado de 1970) também tiveram os recordes mundiais.

O feito de Ronaldo, porém, durou pouco mais de um ano, já que em 24 de
outubro de 1999 o marroquino Khalid Khanouchi superou o tempo do
mineiro em 23 segundos na Maratona de Chicago. Ironicamente, após o
recorde, o maratonista jamais conseguiu repetir o brilho do evento em
Berlim. "Tive muitos problemas particulares, lesões e não aguentei
também lidar com a pressão que todos criaram. Aconteceu tudo de
repente e não estava preparado para tudo que veio depois", admitiu.

Dez anos depois, o ex-atleta reconhece que pouco de seus sonhos foram
realizados. Na época, Ronaldo da Costa acreditava que o recorde traria
investimento ao atletismo e sua vida mudaria. "Pouca coisa mudou, mas
não posso ficar lamentando. Minha vida na pista já passou e não me
arrependo de nada", disse ele, que deixou as competições oficiais há
dois anos.

Agora, o mineiro trabalha para trazer mais crianças ao esporte que o
consagrou. Ele faz parte de um projeto social nas cidades mineiras de
Betim e Contagem, ao lado de outros ex-atletas como Wander do Prado
Moura (recordista sul-americano dos 3.000 m com obstáculos e atual
secretário municipal de esporte de Contagem), para ajudar na renovação
do atletismo.

O trabalho com atletas de alto rendimento, porém, está descartado para
o ex-recordista mundial da maratona. "Não quero trabalhar com alto
nível. Lidei com muitos atletas ingratos, que não davam valor aos seus
técnicos e não quero passar por isso. Prefiro ficar com as crianças,
formar o cidadão e se tiver algum talento passar para outras pessoas",
justificou.

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