Radiografia saudável |
EDITORIAL |
O Globo |
8/9/2008 |
No último domingo de agosto, 4 milhões de estudantes participaram em todo o país da 11ª edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O aumento do número de jovens inscritos para fazer a prova - da ordem de 2.177% desde a implantação do sistema, em 1998 - é evidência do sucesso desse que se tornou o principal instrumento de aferição da educação de nível médio. Até a era Fernando Henrique Cardoso, não se dispunha de termômetros para mensurar a qualidade do ensino público e privado. Inicialmente com o Provão e, em seguida, com o Enem (bem como outros modelos de avaliação nos diferentes níveis de educação escolar), o sistema educacional ganhou dispositivos eficazes para livrar-se do vôo cego nessa que é uma das áreas estratégicas para o desenvolvimento do país. Louve-se a decisão do atual governo de não só adotar a cultura de aferição criada na administração anterior - mesmo tendo feito alterações discutíveis em indicadores -, como ampliar o sistema, com a implantação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que serve para acompanhar a aplicação do Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE) em estados e municípios. Ressalte-se, ainda, que o Enem logrou tornar-se uma realidade na vida educacional do país impondo-se a objeções negativistas de corporações estudantis, profissionais e empresariais. O Enem, por si, não é solução para os graves e estruturais problemas do ensino brasileiro. Estes, exigem a adoção de uma política comprometida com as necessidades educacionais, cujas diretrizes, aí sim, devem ser fixadas a partir da análise dos resultados da prova. Por outro lado, para os estudantes o exame tornou-se um importante canal de ingresso no ensino superior, ademais de medir a capacidade dos alunos com mais eficácia do que os maquinais vestibulares. Por ser um dispositivo baseado em critérios claros, o Enem tabula informações igualmente cristalinas, estabelecendo um ranking à prova de distorções e de conveniências, a partir de uma saudável competição entre as escolas. Por essa razão, não se pode sonegar ao público a realidade que salta do exame. Antes, é imperioso que se divulgue a radiografia que dele decorre, como providência necessária para evitar que se percam os pontos positivos, e para permitir que a sociedade exerça o legítimo direito de pressão para mudar o que estiver fora dos eixos. |