14 de setembro de 2008

Ranking injusto

Ranking injusto
Artigo - Henrique Zaremba
O Globo
8/9/2008

Acaba de se cumprir mais uma edição do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Difícil imaginar que uma única prova, de âmbito nacional, dê conta das enormes diferenças culturais, sociais e regionais que conformam nossa realidade. Por força de imposição legal, esses exames se realizam há algum tempo, mas os resultados produzem uma enorme injustiça.

Os famosos rankings das escolas constituem um capítulo na história amarga dos preconceitos. Quando se examina a classificação dos colégios, separados em escolas públicas e privadas, comete-se uma barbaridade: as instituições públicas de ensino ficam com os últimos lugares, salvo as exceções de sempre, que selecionam seus alunos por meio de concursos de admissão.

Podemos considerar justo comparar o rendimento de alunos de escolas privadas, com todas as condições de conforto e segurança familiar, amparados pelo sucesso financeiro de suas famílias, com alunos pobres, em grande número moradores na periferia e submetidos a uma dieta de infortúnios, e simplesmente constatar que fracassaram?

É um exercício de sadismo ou puro preconceito? Esquecem-se os técnicos do Inep que essa lista condena também os professores? Não sabem que, muitas vezes, o professor da escola pública é o mesmo da escola privada? Como se pode explicar que, num contexto, ele é responsável pelo sucesso; no outro, é responsabilizado pelo fracasso?

Atribuir ao Enem competência para julgar a qualidade das escolas públicas, por comparação desastrada com grandes colégios particulares, é inaceitável, seja do ponto de vista metodológico, seja do ponto de vista moral.

A simples existência de uma escola na periferia deste Brasil, com todas as suas carências, com todos os seus problemas, devia ser motivo de esperança para todos nós. Elas resistem, por meio da dedicação de seus professores.

Deviam merecer, da parte das autoridades do Ministério da Educação, mais respeito e, sobretudo, incentivo e estímulo para que possam superar suas dificuldades.

O que pode estar por detrás disso tudo? 

HENRIQUE ZAREMBA é diretor da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep).