Usain Bolt começou uma nova batalha. E esta briga não inclui outro
pódio olímpico. Bem mais difícil do que sua passagem nos 100 m rasos,
com folga, o velocista agora tenta provar que não usa substâncias
ilícitas para melhorar sua performance, que culminou na marca de 9s69,
três centésimos melhor que sua antiga marca.
O primeiro a sair em sua defesa foi o médico da sua equipe, Herb
Elliott: "Não temos nada a esconder", afirmou o jamaicano, que possui
título de PhD em bioquímica, antes de lançar um desafio. "Para quem
tenha alguma dúvida, eu digo que venha para a Jamaica, para ver nosso
programa. Venha ver nossos controles e como procedemos. Quando quiser,
de dia ou à noite".
Com 21 anos - completará 22 na próxima quinta-feira -, Usain Bolt se
tornou o primeiro jamaicano a ser campeão olímpico nos 100 m rasos,
deixando para trás o norte-americano Tyson Gay, que ficou na
semifinal, e o compatriota Asafa Powell, quinto na decisão. O próximo
desafio é nos 200 m rasos, na noite de domingo (horário de Brasília).
"Não há de se deixar levar por rumores. O que existe (na Jamaica) é
tradição", completou Elliott. "Nós não transformamos Bolt, apenas o
ajudamos a progredir, principalmente no aspecto biomecânico".
As dúvidas do público após o massacre do medalhista de ouro têm
fundamento. Nos últimos 20 anos, três recordistas mundiais foram pegos
em testes antidoping, manchando a imagem da prova. O primeiro foi Ben
Johnson, canadense que cravou novas marcas do mundo na década de 80 e
que teve retirado seu ouro nos Jogos de Seul-1988.
O norte-americano Tim Montgomery viveu a mesma situação após ter o
melhor tempo do mundo com 9s78, em 2002, e depois foi pego após
exames. O exemplo mais recente foi seu compatriota Justin Gatlin,
campeão olímpico em Atenas-2004 e que atualmente está cumprindo
suspensão de quatro anos por doping.
Teoricamente, não restarão dúvidas após os Jogos de Pequim, uma vez
que os primeiros cinco colocados de cada prova passam por exames
antidoping logo depois de confirmados seus resultados. Entre amostras
de sangue e urina, o Comitê Olímpico Internacional promete realizar
cerca de 4.500 testes antidoping em Pequim, o maior número até hoje em
Olimpíadas.
Preocupação
Antes dos Jogos, John Fahey, presidente da Agência Mundial Antidoping
(Wada), havia mostrado preocupação com os casos de doping em Pequim,
argumentando que um novo teste positivo deixaria o atletismo
"moralmente falido".
"Estou de acordo, o público suspeita. E o público deixa de lado
qualquer esporte em que acha não ser íntegro. Desejo e espero que não
se registre outro caso em Pequim, pelo bem dos 100 m e do atletismo",
afirmou Fahey.