quase 91 mil pessoas presentes mal respiraram nos menos de dez
segundos em que Usain Bolt desfilou, do alto de seus 1,96 m de altura,
na pista.
Nada de duelo com Asafa Powell ou Tyson Gay. A pista era toda do
jamaicano de 21 anos. Fácil? Foi o que pareceu. Ainda com 40 metros
para o final, abriu os braços e começou a comemorar. Novo recorde
mundial, com 9s69. Powell, que antes dos Jogos Olímpicos era apontado
como seu grande rival, apenas em quinto lugar.
Assim que Bolt cruzou a linha de chegada, o estádio saiu de seu transe
e os torcedores se deram conta do que tinha acontecido. Ninguém
imaginava que a final dos 100 m, que deveria ser um duelo entre os
três homens mais rápidos do mundo, terminasse com um show solo de
Bolt.
O segundo colocado, Richard Thompson, de Trinidad e Tobago, ficou a 20
centésimos de segundo do jamaicano. O medalhista de bronze, o
norte-americano Walter Dix, ficou a 21. Powell, a distantes 26
centésimos, pela segunda vez em quinto lugar na final olímpica da
prova.
Desde as eliminatórias, o novo campeão brincou em suas provas,
sorrindo e olhando para os lados. Na final, ao passar pela marca dos
60 m, Bolt mirou seu lado direito. Ao ver na raia sete que Powell não
ameaçaria seu feito, abriu os braços.
"Eu vim aqui apenas para vencer, este era o meu objetivo", disse ele à
rede de televisão BBC, logo após o fim da prova e a parada para as
tradicionais fotografias ao lado do cronômetro. "Nem reparei que havia
batido o recorde até dar minha volta olímpica".
Aos 21 anos, Bolt chegou aos Jogos Olímpicos como a grande sensação da
temporada nas provas de velocidade. Ele começou a correr os 100 m
rasos apenas no ano passado, após convencer seu técnico de que poderia
ser veloz na prova mais rápida do atletismo.
Em sua segunda vez na distância, no início de maio, marcou 9s76, a
segunda melhor marca da história na época. Pouco depois, no dia 31 de
maio, surpreendeu o mundo correndo 9s72, em um GP em Nova York,
batendo o campeão mundial Tyson Gay.
Já Powell continua com o estigma de amarelão que carregou pelos
últimos anos. No Mundial do ano passado, em Osaka, o primeiro em que
chegou como recordista mundial, Asafa decepcionou e ficou atrás não só
do campeão mundial Tyson Gay, mas também de Derrick Atkins, das
Bahamas.
Agora, o campeão dos 100 m pode finalmente se dedicar a sua
especialidade. Após vencer os 100 m, o jamaicano já começa a se
preparara para os 200 m. "Agora já estou focando apenas nos 200 m. Eu
cheguei aqui preparado e vou fazer vencer".
Capitaneado pelos dois jamaicanos, a final dos 100 m rasos foi
dominada pelos caribenhos. Dos oito corredores classificados, seis
eram de países da região, entre eles três jamaicanos (o outro era
Michael Frater), dois de Trinidad e Tobago (Richardo Thompson e Marc
Burns) e um das Antilhas Holandesas (Churandy Martina). Os outros dois
eram norte-americanos (Walter Dix e Darvis Patton).
O Ninho de Pássaro ficou lotado para ver a prova mais nobre dos Jogos
Olímpicos de Pequim. O moderno estádio nacional chinês, com capacidade
para 91 mil pessoas, recebeu perto desse número.