3 de setembro de 2008

Falta uma política

Artigo - Sérgio Bruno Zech Coelho - O Globo - 28/8/2008

O desempenho dos atletas brasileiros em Pequim confirma o que todos já
sabem: o Brasil não possui uma política de esportes. As 15 medalhas
conquistadas também comprovam que nossos melhores resultados se devem
ao esforço pessoal ou à competitividade de algumas modalidades. No
momento em que o país pleiteia as Olimpíadas de 2016 é oportuno
abrirmos um debate sério sobre a formação dos nossos atletas e o
futuro olímpico.

Nossas autoridades vêem a realização dos Jogos como oportunidade de
iniciar um forte ciclo de investimentos, esperando que as empresas
venham despejar recursos no esporte e que os atletas respondam sob a
forma de medalhas, de preferência de ouro. Deixa-se de lado a questão
da formação. Tomemos dois exemplos: Cuba e Estados Unidos. Onde nascem
os atletas desses países? Nas escolas. Onde eles se desenvolvem? Nos
colégios e universidades.

E o Brasil? Nossa política esportiva (ou a ausência dela) está
assentada nos clubes. Os números confirmam a tese. Do conjunto da
delegação brasileira em Pequim, formada por 277 atletas, 213, ou 77%,
eram vinculados a clubes. O índice é parecido com o dos Jogos
Pan-Americanos Rio 2007, quando o Brasil participou com 654 atletas,
sendo 487 (74%) ligados a clubes.

A maioria das escolas públicas não tem instalações adequadas ou não
consegue mantê-las. Ficam na dependência de repasses públicos ou das
caixinhas escolares, sempre com enorme lista de prioridades. As que
possuem um ginásio ou uma praça de esportes não contam com técnicos,
não abrem nos finais de semana e não recebem incentivos.

Já os clubes que formam e treinam os atletas vêm perdendo benefícios
como a isenção ou o desconto do IPTU e o INSS Patronal. Clubes como o
Minas Tênis e o Pinheiros, graças à gestão empresarial, superaram
essas dificuldades e procuram se fortalecer com a oferta de serviços
de qualidade aos sócios. O Minas mantém 10,5 mil crianças e jovens em
suas escolinhas. Outros, porém, estão fechando as portas ou se
desfazendo do patrimônio.

Há clubes com boas instalações e um ativo extraordinário a ser
explorado. Porém, as verbas são destinadas quase que totalmente para o
esporte de alto rendimento. Uma luz no fim do túnel surge com a Lei de
Incentivo, que pode amenizar essa situação. Que a discussão que se
sucede a cada Olimpíada coloque esse tema em pauta e que as
autoridades pensem na consolidação de uma política para o setor.
Política de fato, com plano de metas, prioridades claras, orçamento e
vontade, como ocorreu com o Turismo. E que o desejo do presidente de
promover uma Olimpíada desperte o país para a necessidade de
massificação dos esportes.

SÉRGIO BRUNO ZECH COELHO é presidente do Minas Tênis Clube, de Belo Horizonte.