Pode ter faltado competência, equilíbrio emocional e sorte, mas verba não
faltou. O último ciclo olímpico (2005-2008), que culminou com a Olimpíada de
Pequim, foi o que mobilizou maiores recursos federais em favor do esporte
brasileiro, a título de preparação para a maior competição do esporte
mundial.
As estatísticas apontam que mais de R$ 650 milhões foram gastos em prol do
esporte olímpico (veja tabela). O dinheiro é contabilizado por meio dos
recursos
das loterias, das empresas estatais, do fundo de incentivo fiscal e do
Ministério do Esporte, com o Programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento,
o
Brasil Campeão, que inclui o bolsa-atleta. Com isso, cada uma das 13
medalhas
conquistados pelo País na China (excluindo as duas do futebol, que não
recebe
dinheiro público) custou cerca de R$ 50,4 milhões aos cofres públicos.
Entre 2005 e 2008, o montante investido no esporte brasileiro, R$ 654,7
milhões,
é procedente de diversas fontes: R$ 265,7 milhões destinados ao Comitê
Olímpico
Brasileiro (COB) por meio da lei das loterias criada em 2001, que obriga o
destino de 2% das loterias federais aos comitês Olímpico e Paraolímpico
brasileiros; R$ 34,4 milhões oriundos da lei de incentivo ao esporte,
aprovada
em 2006 e que concede isenção fiscal à pessoa física ou jurídica que fizer
doação a um projeto esportivo; R$ 247,9 milhões de patrocínios das empresas
estatais e mais de R$ 107 milhões aplicados pelo governo federal no Programa
Brasil no Esporte de Alto Rendimento.
Parte do dinheiro computado pela lei de incentivo fiscal ao esporte foi
destinado às confederações de boxe (R$ 4,8 milhões), de judô (R$ 1,9 milhão)
e
de tênis de mesa (R$ 564,5 mil), para o Minas Tênis Clube (pouco mais de R$
1
milhão), além de R$ 26 milhões para o COB. Já entre os patrocínios das
estatais
estão os R$ 42 milhões e os R$ 5,9 milhões destinados pela Caixa Econômica
Federal ao atletismo e à ginástica, os R$ 38 milhões dos Correios para a
natação, os R$ 40 milhões da Eletrobrás para o basquete, os R$ 10 milhões da
Infraero ao judô, os R$ 11,2 milhões pagos pela Petrobras ao handebol e os
cerca
de R$ 100 milhões do Banco do Brasil para o vôlei.
Com a proximidade dos Jogos Olímpicos de Pequim, o Programa Brasil no
Esporte de
Alto Rendimento, o Brasil Campeão, foi o segundo programa mais bem
contemplado
pelo Ministério do Esporte esse ano, com R$ 51,1 milhões recebidos. O
programa
tem o objetivo de aperfeiçoar atletas de alto rendimento a partir da
implantação
de centros de treinamento; modernizar centro científico e tecnológico para o
esporte e implantar infra-estrutura para a prática desportiva nas
instituições
de ensino e entidades parceiras, beneficiando o esporte educacional. A verba
também é usada, entre outros fins, para custear o sistema de avaliação de
atletas, o pagamento de quase três mil bolsas e para a promoção e
participação
de 1,2 mil atletas portadores de deficiência.
Os resultados conquistados pelo Brasil em Pequim, inferiores em termos de
medalhas de ouro aos de Atenas, vão certamente provocar inúmeras discussões.
Segundo diversos especialistas, como José Cruz, da editoria de esportes do
Correio Braziliense, embora não se pretenda que a política esportiva do
Brasil
seja dirigida apenas para a formação de atletas - o prioritário é que a
educação
esportiva ajude na formação do cidadão, na saúde e na inclusão social - a
ampliação "da base da pirâmide" do esporte de alto rendimento depende da
estreita relação entre o esporte e a educação, assim como acontece nos
Estados
Unidos, na China e em Cuba (apesar de não ter sido destaque em Pequim).
Nestes
países, os talentos esportivos são descobertos nas escolas e, desde cedo, as
crianças são treinadas para evoluir nas modalidades que praticam.
Outra crítica levantada por Cruz é de que os recursos atualmente disponíveis
para o COB e às confederações esportivas estão concentrados no "topo da
pirâmide", sendo injetados, quase que exclusivamente, em atletas de ponta,
já
consagrados. "Ao contrário do que ocorria em décadas passadas, não faltam
recursos ao desporto nacional, mas sim gestão e fixação de prioridades. O
desporto na base sofre com a falta de verba, além da educação fisíca nas
escolas
ser praticamente inexistente", afirma Cruz. Isso contraria a própria
Constituição Federal, que afirma que é "dever do Estado fomentar práticas
desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados a
destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto
educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento".
Diante da discussão, alguns parlamentares, como o deputado Miro Teixeira,
pretendem levar o debate em torno da questão da aplicação dos recursos no
esporte brasileiro ao Congreso, inclusive com a criação de uma CPI. O
presidente
do COB, Carlos Arthur Nuzman, prefere não comentar sobre as aplicação
globais da
União em favor do esporte de alto rendimento, tendo em vista que gerencia
apenas
os recursos provenientes das loterias, cuja a distribuição é divulgada e
auditada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O presidente do COB destaca
a
expansão do esporte brasileiro citando medalha obtida no taekwondo, a
particação
do Brasil em 38 finais (contra 30 em Atenas) e a participação da delegação
feminina. O presidente afirma não temer a eventual realização de uma CPI.
Ele
argumenta que tais questionamentos são comuns em períodos pós jogos
olímpicos.
Os recursos destinados ao ciclo das Olimpíadas de Atenas 2004 para o esporte
brasileiro somaram cerca de R$ 280 milhões, ou seja, menos da metade do
desembolsado com os jogos de Pequim. Na Grécia, com a presença de uma
delegação
de atletas menor (247 contra 277 este ano), o Brasil fez a melhor campanha
de
todos os tempos com a conquista de cinco ouros. No entanto, somando todas as
medalhas conquistadas naquele ano, 10 no total, o custo aos cofres públicos
foi
mais barato; alcançou a cifra de R$ 28 milhões por medalha.
Vale ressaltar que os valores aplicados no esporte de alto rendimento
considerados poderiam ser ainda maiores caso fossem incluídos os gastos e os
investimentos feitos pelo Ministério do Esporte com o Programa Rumo ao Pan
2007.
Criado em 2004, o programa recebeu apenas dos cofres da pasta quase R$ 1
bilhão
para ser aplicado na realização do evento no Rio de Janeiro.
Leandro Kleber - Do Contas Abertas - UOL