Gastos somam R$103 bi e chegam a 60,2% do total do setor.
Administração pública arca com 38,8% da despesa
Pesquisa do IBGE mostra que as famílias bancam 60,2% (R$ 103 bilhões)
de todos os gastos com saúde no país. A maior despesa é com
medicamentos. O setor público fica com 38,8%. O restante é de
entidades sem fins lucrativos.
O gasto com saúde no Brasil foi de R$171,6 bilhões em 2005,
correspondendo a 8% de toda a economia do país. E essa despesa, na
maior parte, ficou nas mãos das famílias brasileiras: 60,2% (R$103,2
bilhões) vieram desse bolso, enquanto a administração pública arcou
com 38,8% (R$66,6 bilhões). O restante foi bancado pelas instituições
sem fins lucrativos. O quadro e a evolução financeira do setor de
saúde no Brasil, de 2000 a 2005, foram mostrados ontem pela primeira
vez pelo IBGE, num projeto para pôr uma lupa em setores específicos da
economia como já foi feito com o turismo e a cultura:
- Em relação a países semelhantes ao Brasil, os gastos públicos se
equiparam. Mas quando se olha para os países desenvolvidos, nossa
despesa é bem menor - disse Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais
Trimestrais do IBGE.
Na geração de riqueza, a participação cai para 5,3% em 2005. No ano
2000, estava em 5,7%. Segundo o estudo, o maior gasto das famílias
está nos medicamentos, que representam 35,3% do consumo das famílias
com saúde. O plano de saúde é outro componente forte nessas despesas
das famílias. Para a produtora de eventos Luciana Calassara Machicao,
de 27 anos, os remédios ainda pesam pouco no orçamento da casa,
composta por ela e o marido:
- Só compramos alguns analgésicos e pílula anticoncepcional. O pesado
mesmo é o plano de saúde, que usamos muito pouco - reclama.
Pelos números da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), quase um
brasileiro em cinco tinha plano de saúde em 2005, o que representa
18,5% da população brasileira, atingindo 34 milhões de pessoas. Em
2008, esse número já pulou para 39,866 milhões.
Nas contas nacionais esse peso é menor, de apenas 8,4%. A razão está
na forma de cálculo. Os gastos com plano de saúde são distribuídos
pelos despesas hospitalares e ambulatoriais que sofrem a intermediação
das operadoras.
- Só gastos com administração e o lucro das operadoras são
considerados nessa participação - explica Rebeca.
Número de beneficiários de planos aumenta 11%
Para a médica Ligia Bahia, do Laboratório de Economia Política da
UFRJ, o gasto público no Brasil "é pouquíssimo":
- É um modelo que se aproxima do americano, que é financiado por
fontes privadas. Só que a maioria da população brasileira não tem
renda para custear essas despesas, ao contrário da sociedade
americana.
Ela afirma que os indicadores de saúde no Brasil estão longe do
tamanho da economia brasileira, uma das dez maiores do mundo.
- A riqueza do Brasil não se coaduna com os indicadores de saúde - diz Lígia.
A saúde complementar, na opinião da especialista, tem ajudado a
concentrar ainda mais o acesso à saúde no Brasil. Como os planos estão
nas mãos de famílias com renda mais alta e estão em expansão (de 2000
a 2005, houve crescimento de 11% no número de beneficiários), a
tendência é aumentar ainda mais a concentração.
O gasto com medicamentos é outra preocupação de Lígia. Nem o poder
público nem o privado cobrem a totalidade dessas despesas. Segundo
ela, só recentemente as instituições públicas começaram subsidiar
gastos com remédios, como o programa Farmácia Popular que responde por
90% do custo de remédios para pressão e diabetes.
- Nos planos de saúde, essa cobertura ainda é muito tímida. Se a
pessoa fica desempregada deixa de tomar o remédio para hipertensão.
Isso é grave. O remédio faz parte do ato terapêutico e deve ser
financiado pelo poder público e por instituições privadas.