7 de setembro de 2008

Eu defendo o fumo em qualquer lugar, diz Lula

LUIZ CARLOS DUARTE - Folha de S. Paulo - 04/9/2008

Presidente afirma que decreto que proíbe fumo no Planalto não vale em sua sala

Fumando cigarrilha durante a entrevista concedida no Palácio do
Planalto, Lula afirma que "na minha [sala], sou eu que mando"

"Eu defendo, na verdade, o uso do fumo em qualquer lugar. Só fuma quem
é viciado." Essa foi a resposta do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ao ser indagado qual a sua opinião sobre o projeto federal que
proíbe o fumo em lugares fechados, a exemplo do que foi proposto pelo
governador José Serra (PSDB), na semana passada.
Durante a pergunta que lhe foi formulada, Lula fumava uma cigarrilha.
Ele concedia entrevista coletiva a jornalistas de oito jornais
populares do país, no Palácio do Planalto, ontem de manhã. Naquele
momento, não havia repórteres-fotográficos na sala.
O projeto do Ministério da Saúde tramita na Casa Civil, desde
fevereiro, e propõe a extinção dos fumódromos em recintos fechados,
liberando o cigarro, com algumas exceções, apenas em casa ou na rua.
Lula não quis manifestar sua opinião sobre o mérito do projeto. "Eu
não vou propor. A idéia do Ministério da Saúde é a proibição do fumo
em todos os lugares fechados. Eu mando o projeto para o Congresso e
não voto." Ao ser questionado sobre um decreto que proíbe o fumo no
Planalto, o presidente respondeu: "Menos na minha sala. Eu, se for na
sua sala, certamente não fumarei porque respeito o dono da sala. Mas,
na minha, sou eu que mando".
A Casa Civil afirmou que o projeto federal "está em análise, sem
previsão de ser enviado ao Congresso". Informou ainda que o Palácio do
Planalto observa a lei 9.294, de 15 de julho de 1996, e o decreto nº
2.018, de 1996. A lei proíbe o uso de cigarro ou qualquer outro
produto do gênero em recinto coletivo, privado ou público, salvo em
área destinada exclusivamente a esse fim, "devidamente isolada ou com
arejamento conveniente". Na prática, não é cumprida no Planalto.
A assessoria do ministro José Gomes Temporão (Saúde) informou que a
pasta está priorizando seus esforços na aprovação da emenda 29, que
destina mais recursos à saúde. Depois, a prioridade será a lei contra
o tabagismo. Segundo a economista Márcia Pinto, o fumo traz prejuízo
anual de R$ 338,6 milhões ao SUS, em internações e quimioterapia.

Futebol
Após dizer que respeita Dunga e o considera um vencedor, Lula avalia
que "Luxemburgo é o melhor técnico do Brasil na atualidade". O
presidente é corintiano, e Luxemburgo é treinador do Palmeiras, maior
rival do Corinthians. Lula também elogiou Felipão, ex-técnico da
seleção e hoje no Chelsea.
Para o presidente, Dunga não é a causa do mau desempenho da seleção
brasileira. "Estamos numa entressafra difícil de jogadores", disse. E
classificou de preocupante o fato de jogadores estarem recebendo altas
quantias precocemente. "Tem jogador ganhando muito dinheiro sem,
antes, provar que é bom. Vejo titular da seleção brasileira que é
segundo reserva em time da Inglaterra."
Se fosse técnico, Lula afirmou que tentaria montar uma seleção com
jogadores que estão atuando somente no Brasil, como uma forma de
barrar a idéia de que jogador, para ser convocado, precisa estar
atuando no exterior.
Para ele, também falta alma ao jogador brasileiro. "Quando vejo o
Messi -na minha opinião, o melhor jogador do mundo- perder uma bola,
ele sai correndo até recuperar ou fazer falta. Os nossos perdem a bola
e cruzam os braços", referindo-se ao atacante argentino.
Lula defendeu que o Corinthians utilize o estádio do Pacaembu em
comodato [empréstimo sem custo], caso não consiga construir sua arena.
Segundo ele, o governador Serra lhe teria dito que está disposto a
oferecer o Pacaembu nessas condições. Só que o Pacaembu é administrado
pela prefeitura, e não pelo Estado.
O presidente disse considerar uma vergonha que clubes de massa, como o
Corinthians e o Flamengo, não possuam casa própria. "É mais uma
vergonha não fazerem um chamamento à torcida para contribuir e
construir um estádio."
Para ele, um estádio próprio representa entre 30% e 40% do sucesso de um time.