Esforço em excesso, falta de água ou alimentação insuficiente podem levar a fadiga e abandono de prova
A cena não foi bonita.
No último domingo (6), o brasileiro Daniel Nascimento liderava a maratona de Nova York, uma das mais importantes do calendário mundial. No seu encalço, o queniano Evans Chebet. O ritmo forte imposto pelo brasileiro chamava a atenção, ainda mais por ser em um dos percursos mais exigentes da temporada.
Após cruzar a marca de 31 quilômetros, Danielzinho fez uma inesperada parada no banheiro – atitude rara entre atletas de elite, e sinal de que algo poderia não estar bem. Pouco mais de um quilômetro depois, o brasileiro caiu no asfalto, indicando uma possível perda de consciência. Ele foi atendido pela equipe médica, conduzido ao hospital e diagnosticado com desidratação e hipoglicemia.
Danielzinho é um talento indiscutível do atletismo brasileiro. Disputa troféus lado a lado com os melhores corredores do mundo. Mas, aos 24 anos, ele ainda é considerado um atleta pouco experiente. Na Olimpíada de Tóquio, em 2021, ele também precisou abandonar a prova na metade, após um início igualmente forte.
Danielzinho "quebrou" em Nova York. O jargão é usado entre corredores para descrever quando o limite de um atleta foi superado e ele já não consegue mais manter o rendimento em uma prova.
Por que isso acontece? E, principalmente, como não "quebrar" em uma prova? Este texto tenta responder essas duas perguntas, e para isso conversei com o médico e ultramaratonista Roberto Nahon, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte e ex-coordenador médico do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
Por que o corredor "quebra"?
Há três explicações principais para a "quebra" de um atleta, seja ele profissional ou amador. O motivo mais comum é correr em um ritmo mais forte do que o corpo suporta no momento da prova. Outras explicações frequentes estão relacionadas a desequilíbrios, que podem ser energéticos ou hidroeletrolíticos. Ou seja, o corredor pode ter se alimentado mal ou se hidratado pouco durante a prova.
Ainda que os sintomas possam ser diferentes em cada um dos casos acima, o que se observa são sinais de fadiga que podem levar a fraqueza, desorientação e, em casos extremos, perda da consciência.
Como evitar a "quebra"?
O segredo está no planejamento de corrida. Ter uma rotina de treinamentos compatível com os objetivos. Ou seja, estar preparado para a distância e para o ritmo que pretende sustentar durante a corrida. Fazer uma maratona, por exemplo, exige longas semanas de preparação que incluem exercícios intervalados para ganho de velocidade e os famosos "longões" – treinos de rodagem que em alguns casos superam os 30km por sessão.
Estudar a topografia do terreno ajuda, assim como decidir de antemão em quais pontos se hidratar e quando consumir suplementos de carboidrato. Essas informações precisam estar claras na cabeça do atleta antes da largada.
Alimentar-se e hidratar-se de forma adequada na véspera da corrida – com atenção especial às 12 horas antes do início da prova.
No dia da prova, não comer ou beber nada que não esteja acostumado. Treinos longos podem e dever ser usados como um laboratório para construir uma rotina. Testar como o corpo reage com mais água ou menos água. Experimentar encurtar ou alongar a ingestão de carboidrato para sentir o impacto fisiológico disso. A corrida é um exercício mecânico repetitivo, e a rotina correta faz muita diferença no resultado.
Quebrei. E agora?
"Quebrar" não é sinônimo de fim de prova. A sugestão é reduzir o ritmo até que a corrida volte a ser fluída. Isso significa correr mais devagar ou mesmo caminhar por alguns minutos. "A recuperação ativa é bastante eficiente, e em muitos casos o atleta vai conseguir retomar o seu ritmo normal de corrida", explica Roberto Nahon.
O médico também recomenda que o atleta tente se lembrar se pulou algum ponto de hidratação planejado no percurso, ou se esqueceu de ingerir calorias durante a prova. "A quebra poderia ser revertida com a retomada do plano original de água e carboidratos previsto originalmente".
Se mesmo assim não houver melhora, a recomendação de Nahon é que o atleta abandone a prova. "A fadiga pode levar o atleta a correr com a postura errada, algo que sobrecarregaria os músculos e articulações e poderia evoluir para uma lesão".
E você? Já quebrou em alguma prova? Escreva nos comentários