14 de janeiro de 2006

A saudável bebida da noite

Raves, discos, festas de embalo. O consumo das bebidas energéticas é
grande. Só que a mistura com álcool não é boa, pois estimula, e muito,
o metabolismo dos consumidores. Mas pesquisas realizadas no
laboratório da USP mostram que os saudáveis esportistas podem consumir
os energéticos

A maioria das pessoas conhece os energéticos como o combustível da
noite. Muito comuns em boates da moda, jovens misturam-nos com bebidas
alcoólicas para ter "pique" durante toda a madrugada. Os fabricantes
se defendem dizendo que o produto não representa nenhum mal para a
saúde e que pode ser usado normalmente por qualquer pessoa.

Para acabar com todas as dúvidas sobre essa bebida "milagrosa", que
promete dar "asas" e muita disposição a todos os seus consumidores,
resolvemos recorrer às pesquisas feitas por dois cientistas do
laboratório de metabolismo do Instituto de Ciências Biomédicas da USP,
Luis GG Costa Rosa e Érico Caperuto.

Segundo os especialistas, "os energéticos são bebidas que têm em sua
composição carboidratos, cafeína, inositol, glucoronalactona, taurina,
algumas vitaminas e minerais, conforme a definição da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa)".

Analisando uma latinha de um quarto de litro, encontramos 80
miligramas de cafeína ? o mesmo que uma xícara de café expresso; 1.000
miligramas de taurina ? aminoácido desintoxicante e estimulante; 600
miligramas de glucuraronolactona ? desintoxicante; 25 miligramas de
niacina ? faz bem para a pele e reduz a produção de gordura. Mesmo
assim, os energéticos não servem para emagrecer, já que uma latinha
possui aproximadamente 112 quilocalorias. Ainda encontramos nos
energéticos as vitaminas B e carboidratos.

A taurina é um aminoácido conhecido há muito tempo, essencial ao
organismo. O excesso da substância não causa problemas, pois o corpo a
elimina naturalmente. A cafeína pode causar a chamada dependência
leve, já que é normal tomar um cafezinho após as refeições, Coca-Cola
no jantar ou almoço e energéticos quando saímos à noite. Mas o efeito
é temporário e a pessoa pode se sentir mal quando esses benefícios
acabarem.

Estimulante

Os energéticos são considerados substâncias estimulantes por causa da
presença da cafeína em sua fórmula. "A cafeína é uma metilxantina
(1,3,7-trimetilxantina) com propriedades revigorantes moderadas",
afirmam os profissionais do Laboratório de Metabolismo do Instituto de
Ciências Biomédicas da USP. Portanto, no sistema nervoso central, os
efeitos da cafeína se expressam na forma de redução da sensação de
fadiga e de sonolência e em maior rapidez de pensamento.
Cuidado: "Com doses elevadas, podem surgir sintomas de nervosismo,
ansiedade, insônia, tremores e hiperestesia. A ingestão de doses de
cafeína de 85 a 250 miligramas (equivalente a três xícaras de café)
aumenta a capacidade de manutenção de esforços mentais".

A cafeína, por se tratar de uma substância com poder revigorante
moderado, é a substância psicoativa mais utilizada no mundo, presente
em refrigerantes, café, chá, cacau e seus derivados e chocolates,
entre outros alimentos. Segundo pesquisas de nossos consultores, a
ingestão de 6 mg/kg de peso corporal aumentou a performance de
esquiadores da modalidade cross-country.

Hidratação

Mas o corredor não pode se enganar e consumir os energéticos a fim de
reidratar o corpo durante os treinamentos e as competições. "Não é o
mais aconselhável, pois eles não têm a proporção adequada de
carboidratos nem repositores eletrolíticos (sódio e potássio), além de
conter gás e cafeína, que atrapalham o processo de absorção e
hidratação. A cafeína tem, por outro lado, um pequeno efeito
diurético, o que pode gerar incômodos", explicam eles.

Contra-indicações

A não ser pela presença da cafeína, não existem contra-indicações
quanto à ingestão de energéticos. Se compararmos, uma lata de
energético tem a mesma quantidade de cafeína que uma ou duas xícaras
de café expresso puro. Tanto corredores quanto indivíduos sedentários
podem ingerir energéticos sem restrições, apenas com a preocupação em
relação à cafeína, que pode ter efeitos colaterais, como desconforto
gastrointestinal e aumento da freqüência cardíaca, entre outros.
"Qualquer pessoa pode ingerir energéticos, exceto mulheres grávidas,
pessoas sensíveis à cafeína, idosos, lactantes, cardiopatas e
crianças", afirmam os pesquisadores.

Quem sofre de alterações cardíacas precisa ter cuidados redobrados,
porque a cafeína aumenta a força de contração e a freqüência cardíaca,
provocando arritmias e taquicardias e aumentando ? e muito ? a
necessidade de oxigênio. Com isso, os cardiopatas que consumirem
energéticos podem até sofrer infartos e morrer.

Tipos de energéticos

Qualquer mudança na fórmula dos energéticos é vetada por uma portaria
da Anvisa; isso é, muda-se a marca, muda-se o sabor, mas a composição
continua a mesma.

Nossos cientistas ainda explicam que há alguns anos foi desenvolvida
uma fórmula alternativa, com Pfaffia paniculata, uma erva brasileira,
sem taurina, com comprovada ação ergogênica e segurança de uso, mas
que ainda está em observação pela Anvisa.

Para que servem

"Eles funcionam como bebidas estimulantes, melhoram o estado de alerta
e diminuem a sensação de fadiga, além de conter em sua composição os
carboidratos, que são a principal fonte de energia para o corpo",
avaliam.

Cuidados

Apesar de não haver contra-indicações, os energéticos devem ser usados
com cuidado, os mesmos cuidados que se tem em relação à ingestão de
café. A ingestão deve ser limitada. "Mas o energético é alternativo ao
sabor do café, que tem efeitos estimulantes semelhantes, contendo
ainda carboidratos, sendo, portanto uma boa opção para quem precisa de
um estímulo extra."

Energético brasileiro

Sabidamente, as bebidas energéticas têm seu uso associado ao consumo
de bebidas alcoólicas. "De fato, à taurina, presente na fórmula dos
energéticos, tem sido imputado um papel de estimulante indireto do
consumo de álcool após condicionamento, em experimentos com modelos
animais (Quertemont et al., Alcohol, 16:201-206, 1998). Assim, o maior
uso desse tipo de bebida ocorre de noite."

Foi na tentativa de criar uma bebida energética voltada para o público
fisicamente ativo que o Laboratório de Metabolismo do Instituto de
Ciências Biomédicas da USP desenvolveu, com a empresa Horizonte, uma
fórmula sem taurina e com a adição da Pfaffia paniculata, erva
encontrada no Brasil, com propriedades semelhantes às do ginseng.

"Essa formulação gerou um produto com efeito ergogênico, detectado em
experimentos com animais, incapaz de interferir no consumo de álcool,
inofensivo à saúde e com as propriedades estimulantes da cafeína,
contendo ainda carboidrato, principal substrato energético para
atividades de intensidade moderada/alta. Hoje, a possibilidade de
comercialização desse produto está sendo avaliada pela Anvisa."

Quem inventou

O empresário austríaco Dieter Mateschitz, em 1989, importou do Japão
um xarope usado contra o sono. Foi então que surgiu o Red Bull, com o
objetivo de deixar os consumidores, sobretudo os esportistas,
"ligados". Na Europa, há mais de 60 marcas da bebida. São autorizadas
também nos EUA, onde se consome em média 1 milhão de latinhas por mês.