Malabarismos verbais não maquiam o balanço negativo da participação do
Brasil nas Olimpíadas de Pequim. Com parcas três medalhas de ouro,
contra cinco em Atenas, e o tombo - da 16ªposição obtida em 2004 na
Grécia para a 23ª colocação deste ano - na tabela final de
classificação, a delegação brasileira trouxe da China um preocupante
retrocesso.
Superar essa pífia participação na competição esportiva mais
importante do planeta pressupõe autocrítica em vez de digressão - e,
como desejável decorrência, transformar a derrota em base para a
superação dos equívocos cometidos exige uma reavaliação generalizada
do que foi feito de errado durante a longa fase de preparação. Querer
avaliar como positivo o desempenho do país nos Jogos, como o fez o
presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman, equivale a
tentar achar numa caixa de fósforos a vara que impediu a atleta
Fabiana Murer de lutar para encorpar a minguada coleção de medalhas
obtidas na China. Cumpre, na verdade, estudar o que deve ser feito
desde já, para que, daqui a quatro anos, em Londres, o choro de
torcedores e atletas brasileiros seja pela emoção da conquista, e não
de lamento por saltos, braçadas, chutes e cortadas de menos.
Uma lição a tirar do naufrágio em Pequim vem dos países que obtiveram
bom desempenho nos Jogos, como os EUA, a Inglaterra e nações asiáticas
- à parte a China, cuja ditadura não a recomenda como paradigma. São
países que apostam nas escolas como celeiro de atletas, e fazem da
educação uma aliada imprescindível na descoberta e na formação de
levas de campeões.
Outra lição: aplicar com mais transparência os recursos oficiais
destinados ao esporte. Não é demais lembrar que a delegação brasileira
viajou para Pequim turbinada, nos últimos quatro anos, pela generosa
verba da Lei Agnelo/Piva. Tanto que não saiu barato cada medalha. A
discussão sobre a necessidade de aumentar a dotação, sugerida pelo
COB, é posterior; antes, trata-se de estabelecer um plano criterioso
para Londres. Essa é uma providência essencial para que a crônica
esportiva do país não seja enodoada, por exemplo, com casos como o do
judoca Eduardo Santos - que, por falta de dinheiro, teve de esperar
uma década para fazer os exames que lhe permitiram mudar de faixa às
vésperas da competição. O Brasil ainda não é uma potência esportiva -
mas potencialmente é um celeiro de campeões. Transformar essa
virtualidade em realidade exige mais seriedade, abnegação e visão do
que até aqui demonstraram os responsáveis por nossos projetos
olímpicos.